Neste 20 de novembro, consciência negra, nada mais justo que uma reflexão acerca desse tema. A data significa o reconhecimento dos descendentes africanos e da construção da sociedade brasileira.
Mas e como falar sobre esse tema com as crianças? Pensando nisso, separamos 10 livros que retratam essa temática racial para que as crianças possam compreender o assunto, livros ideais para serem lidos para crianças. Confira:
1. Bucala: A pequena princesa do quilombo do cabula
Primeiro livro de contos do soteropolitano Davi Nunes, a obra resgata o nome de um quilombo histórico no centro de Salvador, o Cabula, que já não existe mais, porém preserva, nos bairros que se formaram depois, as ricas manifestações artísticas e culturais oriundas da população negra. Bucala: A pequena princesa do quilombo do cabula (Editora Uirapuru) reconta a história do quilombo por meio da figura da princesa quilombola que tem o cabelo crespo em formato de coroa de rainha e possui poderes que protegem o quilombo dos escravocratas e capitães do mato.
2. Meu crespo é de rainha
Referência no debate de vivências e filosofias étnico-raciais, bell hooks possui ampla lista de livros e artigos publicados no mundo inteiro e alguns títulos voltados para o público infantil. Meu Crespo é de Rainha (Selo Boitatá da Boitempo) enaltece os fenótipos negros e o faz em forma de poema rimado e ilustrado. O livro é indicado para crianças a partir de três anos.
3. Heroínas Negras
Munida de referências de cordelista e xilogravurista na família (o pai e o avô, respectivamente), a escritora Jarid Araes encontra nessa manifestação literária a forma de conscientizar as pessoas sobre a parte que, por muito tempo, foi apagada da história do Brasil: as atitudes e ações de mulheres negras que impactaram o processo de formação do Estado brasileiro. A coletânea traz 15 histórias bem diferentes entre si para mostrar que as mulheres negras têm trajetórias tão diversas quanto a dos homens e podem representar e ocupar múltiplas narrativas, aumentando a consciência de crianças e adolescentes sobre a representatividade negra.
4. O mundo no black power de Tayó
Ativista e escritora, a doutora em Educação pela USP, Kiusam Regina de Oliveira detém inúmeros títulos na área de arte-educação, além de ter colaborado na aplicação da Lei 10.639 em diversas regiões da cidade de São Paulo, como Diadema e Guainazes. Suas publicações literárias versam sobre as dificuldades que crianças e adolescentes negros passam em suas formações escolares e de convivência coletiva com crianças ou pessoas não negras.
5. As tranças de Bintou
Com vasta produção literária sobre a cultura africana, Sylviane A. Diouf nos mostra uma história comovente e que permite repensar o Brasil através dos costumes africanos. As tranças de Bintou (Editora Cosac Naify) resgata a valorização da estética negra, por meio das situações que a pequena Bintou vivencia ao desejar ter as tranças nos cabelos iguais às de sua irmã mais velha. O desejo de tirar seus “birotes” vai revelando a compreensão que Bintou tinha de si mesma e reconstruindo seu olhar.
6. Os nove pentes d’África
Pesquisadora de relações raciais e com vários livros publicados, Cidinha da Silva elabora a primeira obra infanto-juvenil a pedido de uma sobrinha de 6 anos. Os nove pentes d’Àfrica (Mazza Edições) conta a história de uma família, cuja o percurso é narrado pela Barbara, personagem principal e uma dos 9 netos do vô Francisco e vó Berta. A retomada da narrativa familiar permite ao leitor compreender a importância dos momentos de contação de histórias em sua família e na tradição oral como um todo.
7. O menino Nito
Menino não chora? É essa pergunta que o livro se propõe a refletir ao longo da obra. Com vários títulos que falam sobre as tradições populares de matrizes africanas no Brasil, como o Jongo, Maracatu e outras influências africanas nos esportes e culinária incorporadas no país, a contadora de história e professora Sonia Rosa traz o debate da formação da masculinidade em crianças como Nito. O menino Nito (Editora Pallas) revela um percurso de descontrução da masculinidade hoje identificada como tóxica, nociva e violenta esperada para homens na infância e que precisa ser repensada.
8. Betina
Pedagoga e primeira reitora negra da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILA, Nilma Lino Gomes acumula reflexões e debates sobre a questão racial no Brasil. Com vasta publicação, a presente ficção é uma das poucas que possui e tão marcante quanto seus textos teóricos. Betina (Mazza Edições) transparece a importância da ancestralidade nos mínimos gestos familiares. No caso, o penteado revela o passado e define o futuro da personagem e dos que a rodeiam.
9. Minha mãe é negra sim!
Doutora em Educação pela UFMG, Patrícia Maria de Souza Santana recobra a importância das crianças saberem sua origem e também se posicionar. Minha mãe é negra sim! (Mazza Edições) mostra a história do garoto Eno, um menino negro que percebe o preconceito da professora, atravé da sugestão que ela dera, em sala de aula, para que ele pintasse o desenho da mãe, negra, na cor amarela, que ela considerava mais bonita. O incômodo de Eno reflete os vários modos como o racismo atravessa o psicológico da criança negra. Por fim, seu avô o ensina a identificar e valorizar desde da cor preta até costumes da cultura negra presentes na família e na história, fortalecendo sua autoestima e construindo, com o menino, um repertório cultural.
10. A Neta de Anita
Aqui, Anderson Oliveira traz o debate sobre a visibilidade das pessoas com deficiência visual. A Neta de Anita (Mazza edições) é a história de Tainá, uma menina negra e cega, que encontra na avó o amparo e descobertas. A narrativa envolve o leitor na construção da comprensão de mundo da menina. Tainá ouve cochichos em referência ao seu aspecto físico, o que a faz desabafar com a avó, com quem divide o teto. Após um percurso de auto-descoberta, ela descobre também que a essência das coisas está justamente no fato de serem diferentes. A importância das griôs (ou griots) – contadores ou contadoras de história na África – fica ainda mais evidente.